terça-feira, 28 de julho de 2009

29 07 1970

Um dia ...

Só ... sei de mim ... nada mais
Rodopio á volta de mim
Conheço-me tão bem ...
Estou ausente de tudo o que é meu,
Não sou alguém melhor
Falta-me espaço para caminhar
Espero em desespero
A noite que cai dentro de mim
Não sou maior ...
Sou diferente
Não fico indiferente
Ao sorriso de uma criança
Ás lágrimas de um velho
Já tão calmas e calejadas
Aqui fica de mim um pouco mais
Dos meus medos ...
Deste chão que me vê cair ...
O que sei sentir
Ou ainda não aprendi a sentir
A espera pela ausência de mim
Rasga impune o meu peito
Sou loucura
Tão cheia de nada
Sou ninguém
Vivo ali naquela montanha
Onde posso tocar um pouco de céu
Oiço a melodia de uma cascata
Que corre dentro de mim
Selvagem invade cada recanto meu
Sente-se assim ...
Respirar a medo ...
Asfixia-me a alma
Não ser eu é ser alguém
E eu não sou de ninguém
Eu sou ninguém...


segunda-feira, 27 de julho de 2009

Adoro o Céu Pintado de Estrelas

E o mar de corpo ondulado
A dança de um beijo molhado
O feitiço de dois corpos
Quando duas almas se tocam

A terra árida experimentando
O sabor adocicado da chuva
Lambuzar-me entre as gotas de mel
Que o céu deixa cair

E o vento pintado de brisa morna
Numa tela onde o horizonte
Revela a caminhada das estrelas
Acaricia a medo o desejo de não amanhecer

Quero morar pertinho do céu
Onde posso tocar-te de mansinho
Sentir na areia molhada o meu rumo
Mergulhar no sono eterno aninhada
Numa nuvem feita de memórias

Navegam sem timoneiro
Notas musicais no meu sangue
Fazem de mim o que sou
Sentes o pulsar na minha mão

Desfalece a minha alma sobre o meu corpo
Sem saber de mim flutua em devaneio
Correm a fio lágrimas de sangue sobre mim
Impede-me de partir atroz e violenta revolta
Insana loucura que me aniquila
Sobro aos pedaços esmagada por mim
Morro só entre o vazio da multidão

sábado, 25 de julho de 2009

O teu sonho...

Mergulhei num deserto azul
Os teus passos lentos acompanham-me
E o meu corpo funde-se na tua sombra
As tuas mãos encharcadas de música
Tocam no céu pincelado de estrelas cadentes
Sou assim pequenina, pequenina...
Moro entre dois desertos que se tocam
Infinitamente azulados e secretos
Navegas ao longo dos meus braços
Sem te saber fazes a travessia neste deserto
Abraças a noite num eterno reencontro
Inquietamento aguardado e desejado
Rumo contra ventos que sopras na minha direcção
Incessante a lua procura-nos entre dois sóis
Perdeu-se de nós há já muitos luares
De lua cheia vestida deixa cair uma lágrima
Neste deserto azul onde de nós se perdeu
As estrelas caem em vão
Os desejos não moram mais aqui
Neste mar de azul deserto

terça-feira, 14 de julho de 2009

O Anjo mudo...

"Quando o vento se levanta e passa, tua cabeça adormecida põe-se a brilhar.
Em redor dela um halo de sombra onde a minha mão entra,
vagarosamente, pedindo-te um Sinal.
Procuro o rosto com os dedos afiados pelo desejo. Toco a alba das pálpebras que, de súbito, se abrem para mim. Um fio de luz coalha na saliva do lábio.
Ouvimos o mar, como se tivéssemos encostado a cabeça ao peito um do outro. Mas não há repouso nesta paixão. O dia cresce, sem luz e os pássaros soltam-se do pólen dos sonhos, embatem contra os nossos corpos.
Nada podemos fazer.
Um risco de passos ensanguentados alastra pelo chão da cidade. A noite cerca-nos, devora-nos. Estamos definitivamente sozinhos.
Começamos, então, a imitar a vida um do outro. E, abraçados, amamo-nos como se fosse a ultima vez...
O tempo sempre esteve aqui, e eu passei por ele quase sempre sozinho.
No entanto, recordo: deixaste-me sobre a pele um rasgão que já não dói. Mas quando a memória da noite consegue trazer-te intacto, fecho os olhos, o corpo e a alma latejam de dor.
Dantes, o olhar seduzia e matava outro olhar. Agora, odeio-te por não me pertenceres mais. Odeio-te. Abro os olhos. Regresso ao meu corpo e odeio-te. E, quem sabe se no meio de tanto ódio não te perdoaria - mas ambos sabemos que o perdão não existe.
Se fugias, perseguia-te. Mas o olhar começava a cegar. Sentia-te, já não te via. E o pior é que o tacto também esqueceu, rapidamente, a sensualidade da pele e o calor do sexo. O rosto aprendido de cor.
Hoje, tudo se sobrepõe. Nomes, rostos, gestos, corpos, lugares... um montão de cinzas que me deixaste como herança.
Não devo perder tempo com o ciúme. A paixão desgastou-me. E nunca houve mais nada na minha vida - paixão ou ódio.
Só isto: se me aparecesses agora, tenho a certeza, matava-te."

Al Berto

domingo, 12 de julho de 2009

Acordei Sem Mim...

Falo de mim ao vento
Quando me acaricia o rosto
Soletra o meu nome com voz meiga
Envolve-me num abraço pintado de prata
Feito de brisa e calmaria azul do mar
Entretém-se num rodopio louco
Gira á minha volta como criança
Enquanto brinca com os meus cabelos
Leva-me nas asas sem arco-íris
Para te visitar enquanto caminhas só
Beijo-te os lábios feitos de silêncio
Pousa uma borboleta na tua mão
Sou eu vestida de paixão
Devolves-me de novo ao vento
Onde sabes, sucumbirei
Á vinda de um ciclone feito de vazio
Envolto de revolta e mágoa
Tormento histérico de solidão
Dor que invade num rasgo a minha alma
Agora que já não me reconheço
Nada mais vale a pena ...
Sem mim acordei ...

sábado, 11 de julho de 2009

... 29 ...11... 2 ...

Passei a teu lado
Sem disfarce nem sombra
Maquilhada de transparente
Num conto por mim inventado
Nas linhas da minha mão
Entrelaçadas entre a vida e a morte
Mora distante o teu coração
Em cada suspiro um grito de silêncio
Rasga o fino véu que cobre o meu sono
Entoam brutalmente no meu peito
As tuas palavras feitas de poema
Soluçam lágrimas entre os anjos
Que jazem a meu lado de asas caídas
Desfalecem no meu caminho pétalas de rosa
Caídas das mãos nuas de amor
São ecos da alma que deixei perder
Num céu onde a Lua ainda me visita

...

Porque existo ...

Porque existo ...
Acredito ...