segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A Minha Cor...Qual é ...

Olho para dentro de mim,
E de repente sei quem sou,
Conheço cada segredo escondido,
Cada palavra escrita pela minha mão,
O lugar onde guardo as minhas lembranças...
Escondo atrás do sorriso todos os meus medos,
Revelo em cada gesto o sonho que me pertence,
Digo ser de alguém quando nunca fui de ninguém,
Peço a cada anoitecer para não amanhecer,
Nasci sem a luz que clareia o caminho,
Desbravo caminhos que não são os meus e perco-me,
Num infinito e quadrado avanço e recuo ...
Que castra e aniquila cada grão de vontade ...
Pintaram-me de mil cores,
Nenhuma condiz com a minha alma,
Sinto o meu perfume em cada linha do meu corpo ...
Invento-me de poesia que não sou,
Bebo música para serenar a minha alma,
Num inquieto reboliço entre dois lençóis,
Procuro a forma redonda de adormecer,
Conto-me a minha história,
Conheço-me a mim...
E adormeço ...

sábado, 27 de dezembro de 2008

Ao Teu Encontro ...

Deixo os meus passos marcados na areia das dunas,
Só e sem direcção caminho de encontro a ti,
A roupa molhada cola-se ao meu corpo,
O frio invade-me o corpo e a alma,
Trémula e a medo deixo que te aproximes,
Calmo, sonolento ainda, soltas-me um beijo,
Sabes porque estou aqui e entendes-me,
Embriaga-me o doce da chuva no meu corpo,
A brisa do mar salgado amanhece na minha alma,
Deixo-te as lágrimas que não posso dar a ninguém,
Abandona-me o medo, deixa-me entregue a ti,
Por instantes somos um só, por pouco tempo,
Ameno o teu corpo seduz-me, enfeitiça-me,
Chama por mim, assusta-me a tua voz,
Cada vez mais perto e mais forte, estremeço ...
Confunde-me, posso tocar as nuvens,
Basta-me um momento de loucura,
Faltam-me as forças, o meu coração deixou de bater,
Ancorou aqui a minha alma,
Não sinto o meu corpo,
Alguém chama por mim,
Vamos embora ...
Chega, chega de loucura ...
Voltarei, voltarei sempre ...
Até que um dia possa ficar ...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Porque Estás Triste?

Porque não aprendi a amar,
E o mar deixou de ser azul,
Porque nunca fui amada,
E a lua deixou de ser minha confidente,
Porque não sei amar,
E as estrelas deixaram de brilhar,
Porque não me cruzei com o amor,
E a solidão anoiteceu no meu peito,
Porque não tenho mãe,
E amanheço sem o seu colo,
Porque quero estar a teu lado,
E a vida tornou-se um turbilhão desenfreado,
Porque cometi erros que não entendo,
E esta viagem não me pertence,
Porque nada tenho para te dar,
E a ti queria dar tudo,
Porque não te saberei ensinar a amar,
E não te quero um dia perguntar,
Porque estás triste?

Um Quarto...

Aninhei-me nas asas de um anjo,
Com cheiro de infância perdida,
Aguarda impaciente a minha chegada tardia,
No olhar questões que não sei responder,
Na árvore enfeitada de sonhos,
Os seus olhitos meigos cintilam de encanto,
Espera serena não sei bem o quê,
Demoras ... pergunta ... Vens cedo ...
Imita meus passos perdidos pela casa ...
Ausente das minhas palavras,
De tudo o que sou e transmito isola-se,
Vive tão perto e tão distante,
Mãos de inocência que desenham o seu mundo,
Pintam de magia e cor a sua verdade,
Reinventou-se, e deixou de ser meu ...
Revolta silenciosa e galopante,
Descreve um trilho que não conheço,
Abandonou o nosso refugio,
Deixámos de dançar a mesma música,
Já não existem abraços nem viagens,
Cruzamo-nos sem nos vermos...
Somos quatro,
Somos um,
Sou um dos quatro,
Ou um quarto de cada um,
Não sou nada sem um dos quatro ...

sábado, 20 de dezembro de 2008

Uma Vida numa Hora ...

Silenciosamente sem perceber, sem esperar,
Bruscamente entra sem avisar dentro de mim,
Corre no meu mar um rio de sangue,
Um frio cortante rasgou meu peito,
Deixou aberta uma ferida que dói,
Dilacerou cada pedaço de mim,
Simples criatura que se perdeu do mundo,
O meu medo, eu sei, já havia acontecido,
Deixei que fosse assim, deixei que acontecesse,
Para mim chegou de improviso,
Tsunami que arrancou de mim o mar azul,
Trouxe-o de volta manchado de sangue e lágrimas,
Brisa suave e meiga que arrancou de mim cada pétala,
Ficou tanto sem querer deixar nada,
O Beijo...
A Sinfonia dos Grilos...
A Lua...
Um lugar...
Um momento apenas ...
Não sou mais nós dois,
Sou apenas eu, sem ti no meu peito,
Sem a nossa lua, sem o nosso mar,
Que nunca o foi ...
Viagem solitária onde te imaginei sempre a meu lado,
Terminou ali, naquele lugar, num breve instante ...
Temporal que desabou sobre mim,
O teu olhar, o teu beijo, os teus passos,
Haviam-me avisado ...
Não quis deixar de sonhar,
Agora, agora sei ...
Não te terei a meu lado ...
Jamais poderei voltar a sorrir de amor ...
Porque sonhei acordar no teu aconchego ...
Ficar a teu lado ...
Uma vida numa hora ...

Uma noite, um lugar...

Vesti-me de sensualidade e brilho,
Ondas do mar pentearam o meu cabelo,
Perfumei o meu corpo de desejo,
A lua enfeitiçou o meu olhar,
Parte de mim fica para trás,
Não quer entrar, não quer estar ali,
Impele-me a vontade de te esquecer,
A música pulsa ao ritmo do meu coração,
Trémulas as minhas mãos seguram um copo,
Disfarçado de um licor afrodisiaco,
Que não, não quero provar...
Mas teimo, imponho a mim mesma ...
Procuro um olhar, em vão...
Os olhares cruzavam-se sem se prenderem,
Revolto-me, odeio-me por estar neste lugar,
Também não é este o meu caminho,
Aqui eu não existo ...
Os corpos envolvem-se numa dança erótica,
A proximidade assusta-me e faz-me recuar,
Um beijo faz-me afastar o olhar,
O chão de madeira, as luzes com falso brilho,
Jamais esquecerei este lugar...
Faz-me falta a lua, o mar, o nevoeiro, o frio lá fora,
A tua ausência, a serra, um lugar meu...
Quero um olhar, um toque, um beijo, um abraço,
Quero apenas ser eu ...

sábado, 13 de dezembro de 2008

Caio de dor ...

Deixou um rasto de dúvidas,
Entregue aos mistérios dos espíritos,
Amor fantasma selado por um beijo,
Existiu no meio de um turbilhão de afectos,
Corpo de seda rasgado por um feitiço,
Jaz numa overdose de loucura,
Daqui posso tocar a lua,
Desfaz-se a melodia de um amor mendigo,
Solta-se atroz a voz do vento,
Em conversas melancólicas com a chuva,
Regresso oculto que espero a cada noite
Pauta de música sem "mi",
Pintadas de almas roxas,
Fazem-me companhia quatro paredes,
Entra pela janela um sol grave,
Amiúde obrigo-me a viver,
É aqui que eu quero morrer,
Sou eu despida de aparência, livre, serena,
Inquieta a minha alma passeia pelo corredor,
Vagueia procurando alguém,
Enquanto aos poucos se despede de mim,
Aos poucos despeço-me de mim,
Sexta-feira, 13 de um Maio abençoado partiste,
A mim basta-me uma noite, sem Maio, sem número,
Apenas sexta por um acaso talvez,
Noite de lua cheia para iluminar meu caminho,
De uma janela onde posso ver teu rosto...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Luar de um Girassol sem Cor...

Esconde - se magnifica atrás de uma ou outra nuvem,
Esculpidas mais ou menos ao acaso e sem dono de si,
Carregam mágoas que caem sobre a terra,
Traçam o destino de uma semente de girassol deitada á terra,
Cruzam-se, chocam-se, encobrem-se e descobrem-se,
Dentro de mim encontram a escuridão que as leva na mesma direcção,
Desenharam um sorriso pintado a cinzento,
Uniram num beijo molhado o céu e a terra,
Na linha do horizonte uma estrela cai em cascata,
Mistura-se com uma lágrima derramada e cintilam juntas,
Apressados os girassóis erguem-se,
Seguram em cada pétala um pingo perdido pelo vento,
Uma noite esquecida no meio de um tempo sem fim,
Confessam um estranho medo de ser,
Efémera vida que termina assim
Sem ti, sem ti, sem ... Cor

sábado, 6 de dezembro de 2008

Pedaço de Sonho ...

Escreveu no meu corpo a palavra desejo,
Pintou de luz a minha sombra,
Toque de cetim entre dois corpos,
Deslizam lentamente entre as mãos,
Caem no chão sobre a areia azul,
Encontro entre dois corpos agora nus,
Labaredas esculpiram dois corpos,
Fica no ar o perfume do desejo,
Respiram juntos sem perceber,
Gotas de orvalho passeiam entre os dois,
A pele une os corpos num só,
Entre caricias, melodia e loucura,
Chora a alma quando se juntam
Num beijo húmido ansiosamente esperado,
Unem-se os lábios num ardente e
Intenso aroma de paixão,
Arrebatador o coração pulsa em sintonia,
Embriagados de amor param por instantes,
Olhos nos olhos percebem-se,
A Lua adormeceu com a magia da paixão,
Um pouco, nada mais que um pouco,
Feitiço sem fim, delírio que ainda sinto,
Final que não conheceu o começo...

Viagem ...

Incompreensivel de mim mesma, do meu mundo,
Desenho abstracto de uma vida que não entendo,
Trilho que continuamente me desobedece,
Entre a terra que me prende sem raízes,
E o céu que me chama pelo nome de menina,
Existo no intervalo sem pertencer a nenhum lado,
Busca incessante e sem sentido,
Tom de cor que não consigo tocar,
Alma demente e insana que se perdeu e me encontrou,
Morro aqui porque tenho medo de não morrer,
Arrastei a minha sombra para perto de uma fogueira,
Chama que desvanece lentamente sem sentir,
Assalta-me a imensidão de um vazio que me aniquila,
Estilhaços de uma vida que se perdeu da alma,
Chocam bruscamente contra escarpas de sentidos
Que há muito tempo haviam terminado,
Soam ecos de desespero num templo esquecido,
Pequenês onde me enrosco e me encontro com o meu silêncio,
Seduz-me um brilho sorrateiro que me faz estremecer,
Oiço a tua voz como se estivesses comigo,
Não sei porque voltei ali ...
Sei apenas que voltei ...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Para Além de Tudo Sou Nada ...

Ficou sem pedir e sem avisar,
Muito além de mim, do que é meu,
Pintei da minha cor a vida,
Vim ao meu encontro,
Procurei-me eu mesma,
Sem querer saber se sou,
Acordei ao lado de mim,
Cruzei-me comigo sem perceber,
Sem saber onde me encontrar,
Conheci-me devagar,
Não me perdoei jamais,
Segui na minha direcção,
Querendo regressar de mim,
Nunca me deixei ouvir,
Acreditei poder ser apenas eu,
Eu não sou,
Desisti de ser...
Um pouco de mim existe somente ...

Entre Contrários Demasiado Iguais...

Dúvidas que percorrem a minha pele,
Correm-me nas veias algemas,
Que me prendem á vida que não quero viver,
Revejo-me em cada cada lugar onde existo,
Vagueio no passado por instantes,
Só e a medo visito as lembranças,
Arranco de mim um pedaço de céu e mar...
Espera por mim dia após dia,
Uma estrela que me guia,
Descobri meu anjo sentado na lua,
Enquanto chora meu coração,
Deixa cair suas asas sobre mim,
Protege-me de mim, da minha loucura,
Sopra uma leve brisa de meiguice,
Que beija docemente meu ombro,
Procuro por ti, em vão ...
Foi meu anjo que partiu,
Deixa uma aragem fria que queima,
Cinzas que o Inverno teima em reacender,
Num combate sem tréguas entre mim e eu ...

Porque existo ...

Porque existo ...
Acredito ...