sábado, 28 de junho de 2008

ROSTOS

Perceber onde estou,
Ouvir meus passos,
Sentir a música que me envolve, que encarno, que me faz estremecer,
Perder-me num labirinto de pequenos segredos,
De peças soltas que vou juntando uma a uma,
Tantas vezes sem sentido, sem qualquer lógica,
Fundamentos desenraizados, que procuro que sejam meus,
Mas que jamais farão algum sentido,
Pensamentos absurdos, de morte, de mágoas eternas,
De amores efémeros, paixões platónicas,
Não vivo os meus sonhos, sonho um dia poder vivê-los,
Na busca de me encontrar, acabo por me perder,
Em cada palavra que escrevo, em cada gesto, na dança em que imito a minha sombra,
No baloiçar de cada ilusão, invento,
Invento que tenho um amante, que sou desejada,
Invento que me gosto e que estou feliz,
Não sei quem sou agora, mais logo não serei certamente a mesma,
Visto-me de luz, irradio um sorriso, passeio a sensualidade,
Dispo-me ao luar, banho-me de desejo, perfumei de rosas a alma,
Quem serei a seguir...
Invade-me a raiva, a tristeza, a vontade de não ser gente,
De cair no abismo, de não existir, de me magoar,
E logo depois...
Personagem, canção, poema, música, que
Imito, que canto, que escrevo, que oiço, e de novo no palco,
Palco que eu piso, onde deixo a cor do meu pincel, o timbre da minha voz,
O perfume que escolhi para cada representação,
E em cada peça, não sou eu mesma,
Não posso ser eu mesma, "eu" não existe,
O "eu" é o caminho, a dúvida da real existência...



Sem comentários:

Porque existo ...

Porque existo ...
Acredito ...